quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Linha 11 - Coral

- Não empurra, porra!
- Não sou eu, tô sendo levado também!
- Não tá vendo que tá cheio cacete?
- Mas não sou eu, tão me empurrando também!
- Então passa o esporro e para de empurrar!
- Não tem como, não to nem com meus pés no chão!
- E quem é o infeliz que está fazendo isso?
- Alguém que realmente merece a palavra, mas não eu!
- Putz, esse treco vai sair e eu não to me segurando
- Eu também não estou, mas sei lá, se quiser se apoiar...
- Porra, espertinho você hein? Não, prefiro ser encoxada pelo peão mais suado do trem!
- Isso é fácil, ele tá atrás de você agora.
- Como assim? Que porr- Ah, seu filho da puta..
- Hahahahaha!
- Porra, eu me assustei agora, pra que mentir?
- Sabe, acho que você devia falar menos palavrões. Ficam meio deslocados em você.
- Ah, nessa vida de fodido, nesse trem do caralho cheio pra diabo pode ter certeza que é justificado.
- Concordo, mas ainda assim acho.
- Tanto faz. Eu queria pelo menos estar me segurando em algo.
- A minha oferta continua de pé.
- E eu ainda prefiro abraçar um cacto. Você se acha muito malandro né?
- Prefiro me ver como gentil. De qualquer forma, algo me diz que na próxima estação você muda de ideia.
- Quanta prepotência hein? Pode deixar que eu me viro.
- Fique à vontade.
- Segurando a porra da porta essa merda desse trem não vai mesmo
- Não sou eu, to do seu lado no meio do trem.
- Eu não disse que era você, estava apenaaaaaaARGH
- Mas que coisa, você quase caiu quando o trem saiu! Gostaria de se apoiar em algo, minha cara?
- Vá tomar no cu, engraçadinho.
- Poxa, que gratuito! Essa foi pesada hein.
- Tá tá, sem choro. Esse maquinista também tá achando que tá levando gado, só pode.
- Há semelhanças, creio eu. Mas gado não ouve funk sem fone de ouvido, que eu saiba.
- De verdade, você tá achando toda essa porra engraçada né?
- Eu diria conformismo cínico.
- Falando assim parece doença. Vai se tratar e se cura dessa espertice também.
- Acho que é incurável. Assim como seu stress permanente.
- Muito pelo contrário, só fico assim nessa lata de sardinha. Sou muito calma e controlada.
- Fácil de imaginar. Então você tem Stress Permanente em Trens.
- Quem não tem?
- Eu. Tenho Conformismo Cínico, lembra?
- Você tem é cabeça oca, de verdade.
- Ora, isso foi uma afirmação com um quase sorriso? Quem diria que um desses surgiria por aqui.
- Pois é, estou me curando, olha só.
- Que beleza, hein. Aliás, eu se fosse você me segurava...
- Tava indo bem, mas afundou. Tinha que dar uma de gostosãããAIAIAI
- Eu avisei..
- Porra, essa gente empurrando pra descer, dá tempo viu! PUTA QUE PARIU, alguém pisou no meu pé, filhos da puta!
- Então, né.
- Para com esse sorriso agora!
- Eita, que que eu fiz?
- Olha, você tá achando muito engraçado mas quase fui pisoteada e levada aqui.
- O que não aconteceria se você tivesse feito o que? Ah tá.
- Ah, então a culpa é minha?
- Não disse isso.
- E de quem é então?
- Não sei. Estou apenas oferecendo ajuda.
- Sei...
- É verdade. Sinceramente, não estou tão desesperado a ponto de ficar chantageando uma garota por contato físico.
- Vai saber. De repente seu estilo espertinho-malandrão não faz muito sucesso e agora você quer faturar uma...
- Garanto que não é o caso. E apenas para informação, meu estilo faz bastante sucesso.
- Ui, mexi onde não devia é?
- Não, minha cara. Apenas reforçando um pequeno ponto.
- Sei sei. Imagino quão pequeno seja essa ponto...
- Fique à vontade para imaginar. Imagino que você queira reconsiderar minha oferta agora...
- Tá chegando na estação? Tá bom, dá um espaço aqui.
- Opa, todos.
- Você pode levantar o braço? Agora vou passar por baixo, dar a volta [amigo, me dá licença por favor? Obrigada] eeee pronto!
- Isso aí, estamos prontos.
- Hmmm não estamos chegando em estação alguma né?
- Depende de quão próximo é o seu chegando.
- Sei sei...
- Quem sabe a viagem fica melhor que o destino?
- E agora você entende de destino?
- Fica meio difícil não entender do destino literal que eu falava, mas na real, talvez agora eu entenda um pouco de destino.
- Como assim?
- Eu posso te explicar...

E assim foram.


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