quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Uma inadequada história - parte 2

Mensagem encontrada em um envelope lacrado com cera, numa gaveta de uma escrivaninha em um quarto de hotel que no registro hospedou o Dr. Hanzinza Schucrutidão

Caros leitores, como vão? Há tempos tento enviar essa atualização sobre meu cativeiro, porém, como narrei anteriormente, tive muitas dificuldades com a falta de hospitalidade de meus captores. Pois vejam, senão consegui até agora comover-lhes, a última injúria: fui hospedado numa suíte com um capanga à porta, para que eu não fugisse. Tenho uma hidromassagem, uma TV que posso ver e recebo refeições fartas, mas quando verifiquei o folheto do hotel não pude deixar de notar que era 4 estrelas. Novamente, dificultam minha vida, mas devo bravamente resistir, pois minhas descobertas nesse período foram extraordinárias!
Continuando meu relato de onde havia parado em meu diário, cumpri minha rotina de interrogatórios e interações animadas unilaterais que acabavam me rendendo algumas agressões alegremente por alguns meses, pelo que pude calcular. O chef nunca acertou o ponto do pato, mas provei uma raclette que certamente me renderá muitos sonhos no futuro. Mas divago. Pois bem, sempre me perguntavam pelo apocalipse das borboletas e sobre como havia descoberto tanto, subestimando claramente minha habilidade de pesquisador altamente experiente e capaz. E continuaram sem saber, pois a cada interrogatório eu prezava por manter meu papel de cativo, com gritos e esperneios que deixariam qualquer ator dramático com inveja. Após esse período, resolveram me deixar mais à vontade e pude andar livremente pela masmorra onde me confinaram. Tive então, acesso à outras salas e a algumas pessoas que estudavam areas similares às minhas, ainda que de forma rasa, e descobri, que a modéstia me perdoe, que apenas eu era um cativo. Claro, você leitor sabe o que isso significa: minha importância como estudioso do fenômeno me fazia muito mais relevante que os pobres incautos que não conseguiam sequer chegar perto de minhas descobertas. E que meu papel como sequestrado certamente era melhor desempenhado.
Quando alguém me abordava eu usava a mesma estratégia de gritar e espernear pedindo minha liberdade, e com o tempo fui sendo deixado em paz. E claro, descobri muito mais. Vi um porão onde haviam dezenas de espécies de borboletas em estufas, numa visão majestosa e em estrutura magnífica, mas que não entendi a serventia. Havia uma placa escrito "Viveiro de espécimes para utilização durante o Holocausto das Asas Leves", que achei curiosa, e uma porta de aço com a bandeira Sueca e uma sigla, a qual não me recordo agora.
Engraçado, nunca havia me ocorrido de esquecer algo. Deve ser essa banheira com sais baratos. Maldito momento onde nem uma jacuzzi foi sequer considerada para meu bem estar. Esses amadores ainda terão o deles, ah se terão! Mas divago novamente.
Um belo dia me buscaram em minha cela (que a essa altura já contava com um colchão razoável e travesseiros de pena), me cobriram o rosto com uma sacola e após um percurso labiríntico, me defenestraram, no sentido estrito do termo. Fui arremessado por uma janela e caí na neve escandinava, sem sinal de meus captores. O estabelecimento através do qual havia sido tão rudemente atravessado era, nada mais que o Lundgren's. Ele estava fechado, exceção feita ao estilhaçamento vítreo que induzi.
Fiquei confuso por um momento; logo fiquei plenamente ofendido. Decidi gritar o que havia passado a plenos pulmões no meio da aldeia onde estava o abuso a que havia sido submetido, e tenha certeza caro leitor que não poupei palavras! Como podiam se desfazer de um ícone da sabedoria como eu?
Tomei então, uma pancada na nuca que me desacordou. Ao recobrar-me, dei por mim nessa suíte. Ninguém veio falar comigo, e tendo disponibilidade de caneta e papel (algo maravilhoso, visto que em um acidente relacionado ao local em que guardava e que ainda reluto em comentar, perdi meu lápis companheiro) resolvi por minhas desventuras em dia. 
Sei que minhas descobertas estagnaram, porém acredito que preciso descobrir o que ha atrás da porta de aço. Algo me dá a certeza que a solução para tudo está lá, e digo isso a despeito de uma marcação na própria, dizendo "SECRETO".
A sigla me parece mais clara agora. Será que era LNBS? Mantenho a ver.
Assim como espero que achem meu diário, deixo esse envelope aqui. Continue me acompanhando!

Dr. Hans Schucrutz



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